quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Voltar mais Tarde

Quero ouvir o som do rio
passando embaixo da ponte
à beira dos casebres
tão desiguais.
Quero escutar
o sonho dos meninos
arremessados
ao abandono do mundo.
Quero ouvir
o ruído melancólico
dos risos postiços.
E escutar os
lamentos do vento,
cantando seus desafios.
Enfim, quero fechar os olhos.
Voltar mais tarde,
quem sabe,
e saber melhor da vida.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Medo de Amar

No vinho que ofereces
sinto ainda
o sabor da tua boca
em espirais
de estrelas e cometas.
E todo o amor contido
há de se perpetuar.
Em nós o gérmen
e o mistério
que se desprendem da vida.
Não quero adeuses.
Quero cheganças
e louvações.
Veja, meu amor,
a noite caminha descalça.
Os ébrios e os poetas
bebem o luar
que se avizinha.
E as flores,
que não colhemos,
fazem sombras nos jardins.
Somos o que sonhamos?
Me diga, meu amor.
Sei apenas
que o medo nos quebra,
nos aparta,
nos dissolve
e nos separa.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Está na Hora

Está na hora
de arrumar a casa.
Mas nada
de arabescos nas janelas
e bordados nas cortinas.
Quero uma mesa grande
para acomodar meus amores.
Quero uma mesa farta
e colocada na varanda.
Quero ver estrelas
da janela do quarto.
E o sol majestoso
seria o rei da casa.
E o vento sibilaria
pelos cantos
suas fantasias.
E o cheiro de maçãs assadas
lembraria para sempre
minha infância.
Nas minhas narinas,
há um perfume de alfazema
dos lençóis imaculados.
E o cheiro de patchuli
perfumaria as toalhas de banho
me dando saudades da vovó.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Meu Gato

Penso que os poetas
gostam de gatos.
Eu gosto de gatos,
confesso.
E o gato que não tenho
sobe no meu armário,
desarruma meus vestidos
e se esconde das visitas inesperadas.
O gato que não tenho é macho
e se chama João.
O gato que não tenho
passeia, traquinas,
entre os bibelôs de cristal
da mesa da sala.
E não quebra nada.
O gato que não tenho
é um equilibrista.
Penso que é de circo.
E tem uma independência
que me seduz.
Brinca como criança
e sabe ser feliz
com fiapos de linha,
novelos de lã
e bolas coloridas.
O gato que não tenho
é elegante,
prateado
e de olhos cor de ardósia,
mas não é o Chico.
O gato que não tenho
finge que não existo.
Mas seu lugar preferido
é perto dos livros.
Acho que meu gato
gosta de ler.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Domingo

No almoço de domingo
estás tão distante...
Absorto, apenas engoles
uma comida já fria.
As conversas se diluem,
não existem,
ficam estáticas no prato
de porcelana azul.
O silêncio tem vozes,
mas não identifico.
Porque é domingo
quero te dizer
o que me aflige.
Ou apenas
te abraçar como nunca
para que saibas
o que sinto.
Quero te beijar loucamente
como os amantes ousam.
Mas é domingo
e teu pensamento vaga
sem limite e sem sentido.
Tento te buscar.
Te arrancar do naufrágio.
Te dar um porto,
um rumo.
Mas é domingo
e trocamos apenas
um sorriso pintado.