sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Amigos,

Quem tiver interesse, poderá ler minha entrevista no site Whohub, em
http://www.whohub.com/copacabana

Intenção

Toco com delicadeza e ternura
teus cabelos de lua.
Sou passarinho
e aprendo um novo voar
na luz da manhã
que a vida me dá.
Me emociono com teu rosto.
Não percebes a sutileza
deste instante de beleza e dor.
No horizonte matinal
que o tempo desconhece,
quero cantar o meu mais belo canto.
Para enternecer teus olhos
que já viram tudo
e descrentes se tornaram
pela vida afora.
Te abraço e te beijo devagar.
E este afago é tão amplo
que o mundo inteiro
não comporta.
Quero tocar teus dedos
com a singeleza dos anjos,
te fazer menino novamente.
Te dizer coisas secretas.
Colar meus ouvidos no teu coração
e extrair de ti doce canção.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Homem do Guarda-chuva Vermelho

Aquele encontro futuro já estava previsto por Domingos há meses. Não sabia se era sua forte intuição ou se ele tinha mesmo algum poder especial. Vivia dizendo que Nara ia encontrar Caco na rua. E seria num dia chuvoso de verão.

No início, Nara pensa que é pura brincadeira de Domingos já que ela adora comprar guarda-chuvas. Possui uma coleção deles, de variados tecidos, desenhos e cores. Prefere os de cabo longo, modelos exóticos e sofisticados. Domingos também não desconhece que Caco é seu ator preferido.

Mas a insistência de Domingos chega a ser quase uma obsessão. Ele sabe perfeitamente que Caco mexe com seu imaginário. Dono de uma beleza incomum, tem um charme bronzeado, rosto talhado a canivete, corpo atlético, alto, sorriso encantador, olhar misterioso, voz máscula e ritmada.

Nara não compreende a motivação dele sobre o possível encontro com Caco. Domingos precisa regularmente de fantasias para alimentar seu amor por ela? Seria essa a razão?

Afasta as cortinas e abre as janelas do quarto, em seguida senta na pequena poltrona e pega um livro na prateleira sobre a vida de Simone e Sartre. Gosta de ler sobre a rabugice, a inteligência e a liberdade de Sartre. As atitudes independentes de Simone a deixam empolgada. Ao mesmo tempo, acha estranho que S. de Beauvoir sinta tanto ciúmes de Sartre. Lembra de uma frase memorável dela: "É o desejo que cria o desejável e o projeto que lhe põe fim". Tem verdadeiro fascínio pela história complexa e eletrizante dos dois amantes.

Um leve cheiro de flores silvestres invade o aposento que dá para um jardim. Liga o som e uma música suave de fundo torna o ambiente acolhedor. Precisa de paz para raciocinar.

Enquanto lê trechos da biografia, reflete sobre o comportamento cheio de altos e baixos de Domingos. Tenta manter os nervos sob controle absoluto. Não possui mais habilidade para compreendê-lo?

Surpreendentemente, se constrange com a altivez e a natureza de Domingos por demais contestadora. Faz uma pausa na leitura, suas pálpebras fecham à procura de uma corrente que flua melhor seus pensamentos desalinhados. Seus olhos reviram para cima enquanto ela ouve o eco de suas reflexões.

Logo se recompõe e todas as suas necessidades emocionais parecem subitamente satisfeitas. Decide sair e almoçar com uma amiga. Senta na cama e liga para Maya que está disponível e se mostra contente com o convite. Há muito não se veem. Maya é particularmente simpática e brincalhona.

Marcam em um restaurante tradicional e discreto, avarandado, propício a longas conversas e confidências. Maya chega pontualmente às 13 horas. Está com sede e logo pede um suco de laranja com gelo. Abraçam-se longamente como duas irmãs. Toda vez que elas se encontram, se observam atentamente como fazem as mulheres. Maya é muito elegante, os cabelos alourados caem sobre os olhos. Usa um vestido longo com estampa oriental e uma sandália havaiana tipo exportação.

Nara repara logo seu celular de última geração. As duas amigas, no entanto, não têm mais a mesma intimidade, Maya atende uma ligação atrás da outra. Aquilo irrita sobremaneira Nara. Ela deseja conversar, mas a conversa não engrena. Pedem o cardápio e as duas decidem comer um filé com legumes na manteiga. Não dispensam o chope com dois dedos de colarinho. Bebem quatro em tulipas finas.

Três da tarde quando o telefone toca e Maya fala com voz sussurrante. Diz que seu namorado vem buscá-la. Comenta sobre ele com entusiasmo juvenil.

O tempo vira, sopra um vento estranho e nuvens cinzentas surgem no céu. Dez minutos depois, cai um aguaceiro. As duas mudam de mesa para se proteger da chuva. Pedem, apressadas, a conta.

Um pensamento ligeiro passa pela cabeça de Nara.

Em seguida, ela vê entrar o deslumbrante Caco, guarda-chuva vermelho molhado, indo em direção à mesa.

Para perplexidade de Nara, beija longamente sua amiga com fervor de namorados recentes.

Os dois se despedem rápidos de Nara e saem, batendo a porta do carro.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Deixo para Amanhã

Quero saber
os planos de tua vida.
Temerosa, deixo para amanhã.
E não te pergunto nada
que não seja fantasia.
Há muito tempo
falta-me coragem.
Não alegues, porém,
que tudo foi ilusão.
Guarda tão-somente
a intenção da minha poesia.
Ontem o amor me percorreu
qual música que soa
noite afora.
Acerca-te de mim,
bem devagar.
Envolve-me
com teus braços largos.
Dize-me dos devaneios.
Fala-me baixinho de quimeras.
Acharás por certo outros portos.
Navegarás por oceanos.
Vislumbrarás tempestades.
Verás também calmarias.
Mas no bramido dos ventos
temerás como um marujo
as agruras do mar
nas vagas gigantescas.
E quando de súbito
me escutares
quem sabe possa voltar
a te dizer ternuras.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Desejos

Libertei-me.
No meio de tantas tristezas,
envolta em nebulosas,
não mais me deixei prender.
Numerosas serão as manhãs
de aprazíveis primaveras.
Tu hás de sentir
a falta da minha ternura.
Sentirás a falta da minha carne
que já foi delírio.
E não mais me encontrarás
no teu caminho incerto e teatral.
Imaginei-te na noite alta
com a cabeça circundada
de louros e jasmins.
Não quiseste as
riquezas que te dava.
Sublimes e preciosas eram.
Riquezas vindas
do orvalho luminoso da manhã.
A cada instante juras
começar vida nova.
E eu te peço apenas
que me escrevas.
Só alguns versos de nossa vida,
que já foi música
e doce poesia.
Mas teus lábios
sequer me beijam
com o mesmo encantamento
e a plenitude de antes.
Só há rotina e tormento
nos teus olhos enredados.
És apenas um rosto cansado.
Perdeste a paixão de viver.
Perdeste a audácia de outrora,
creio.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Solidões

Busco as solidões
que o tempo não aplacou,
os sofrimentos vãos.
Intolerável a minha dor,
tão rígida como uma pedra.
Feita do menor granizo
ou construída nas rochas?
As ressacas das ondas
são minhas lágrimas
que me atiram para trás.
À deriva me encontro.
E sacudida e trêmula
como folha ao vento,
sou tormenta e clamor.
Clamor de tempestade
em mortalha branca.
Meus braços magros
desaparecem e se estendem
num abraço de morte.
Meu corpo rodopia
e cava abismos profundos.
E mergulha furioso,
ferido de morte.
Sou febre,
sou frio,
sou sede.
Mas face a face
com teus olhos glaciais,
posso dizer que me perdi.
E a abundância de delícias
que vivi outrora
é quimera vã
na imensidão de sentidos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Palavras

Não entenda mal
minha palavra.
Ela tem aroma
de brigadeiro
e fulgor de juventude.
As palavras
são hinos de louvor.
Deixo os infortúnios
para trás.
E as lágrimas que verti
não voltam mais.
Libertei-me da paixão
que me exauria.
Não temo mais as perdas,
o fim das ilusões.
Enterro as lembranças
num funeral cheio de ritos.
Deixo o colorido sonho
mostrar sua face encantadora.
Teu rosto sensível e belo
apaga as marcas do meu
corpo fatigado.
Me atrevo a pensar
que a vida é mesmo bela.
Percorro caminhos novos.
E no sol da tarde,
debaixo da janela,
há de existir,
quem sabe,
o amor que busco.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Juras Secretas

As mãos unidas,
o olhar poético,
nossos lábios selados,
com que ansiedade
eu quis teus beijos.
Juras secretas,
uma outra vida.
Começar de novo.
Mas quando o dia vem
com seus conselhos
de orvalho,
as promessas se tornam vãs.
A alegria é tão fugaz.
E a alma teme
a grandeza do momento
que se esvai.
E diante da noite
mais cuidadosos
nos tornamos.
Não te iludas porém,
meu amor.
E ouve com emoção
o meu silêncio.
Não alegues
que tudo foi só um sonho.
Dize que teu ouvido
se enganou.
É só isso que te peço.

Amor de Incompletudes

Bate suavemente
a outra porta.
Uma janela se fecha.
E o amor de incompletudes
que te dou,
voa indeciso como passarinho.
Invento razões
que só o amor pode inventar.
Procuro o estreito espaço
que delimita o que posso.
Fujo de confrontos.
Brinco com a dor.
Quero o repouso
do teu corpo amado.
Mas quanto mais te quero,
mais te perco.
Não consigo apalpar
teu complexo amor
que minha mão não alcança.
Já não me escutas,
não te vejo,
não me apertas
ao peito como fazias.
Existe algo mais?
Só sei da falta
que me fazes.
No mais, tudo se dilui.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Adeus

Difícil dizer adeus.
Abaixo todas as recordações!
Segue o trem da vida.
Onde irá chegar?
Mudaste bastante.
Faltam gestos de delicadeza.
E tuas palavras
nunca me feriram tanto.
Porque banalizas todas elas.
Quantos dias e noites
jogados fora!
Pensei que te dava
o melhor de mim.
Mas o melhor de mim
não era grandioso,
era apenas meu desejo,
eram sonhos de ventura,
eram meus beijos,
era meiga carícia,
era meu amor imperfeito,
e não te bastavam.
A neblina tolda meus olhos.
Meu pranto é
um soluço represado.
A lágrima que não pude chorar
está guardada no peito.
Uma inquietação permeia
minha noite insone.
Tudo foi tão inesperado...
Fazia muitos planos e
tinha fome dos teus braços,
sempre.
Quero gritar,
mas a voz não sai.
Desabaladamente,
tento esquecer tudo
que passamos.
Porém há um abismo
entre nós.
Exílios e mortes.
Abaixo o amor!
És doravante
aquele que eu amei
loucamente.
Mais nada.