sexta-feira, 20 de julho de 2012

Meandros

Nas palavras percorro
planícies e prados
à procura de algo.
E nos livros escrevo
o que não conheço.
Não sei apartar-me
dos laços e nós.
Não sei apartar-me
dos sonhos da infância.
Não sei se são de afeto
ou desventura.
Uma vitória inútil
decifrar cada palavra
se é leve, secreta ou vazia.
Sei que cada palavra me seduz.
E de repente
tudo me parece insólito.
Um atroz silêncio.
Mais nada.
Então me acalmo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Caminhos

Brincos de princesa
adornam o jardim
da tua casa musical.
Os pássaros sussurram
na tarde morna.
Os sons da natureza
se mesclam
em cores matizadas.
Havia tanto silêncio
por lá...
Pensamentos vividos voam,
querendo definitivamente
se soltar.
O verbo livre
soletra palavras
não pensadas,
jamais ditas.
O chão de pedras toscas
do teu solário
tem marcas
de pés que hesitam.
Não sabem a força que têm.
As folhas ao vento tépido
farfalham comovidas.
Minha veste irreal
se despetala como crisálida
e se despede de algo
intangível.
Não há choro possível.
As lágrimas foram
gastas, todas.
E há um cântaro
cheio delas.
Águas salgadas,
vestidas de luto.
O tempo chama,
inclemente.
Não é mais possível
tecer quimeras.
Deixo-as, então.
Nada mais resta.
E sigo
por caminhos distantes
de tudo que fui.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Fruta do Meio

A alma ferida
deságua errática
Na desordem mantida
preservo histórias
Sou a fruta do meio
e metade de mim
se perdeu no trajeto.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mortal

Chamaste-me de raio de sol
e acreditei na luz
que me envolvia o ser.
Alegrei-me com teu gesto
neste mundo indiferente.
Vi constelações silenciosas
e os astros a faiscar
em cores escarlate.
Um meteorito caiu do céu
em encantos estelares.
Confundi-me toda.
Nuvens brancas desenham
espaçonaves mágicas
e cometas cintilantes.
Lembro-me de histórias
de carneirinhos nos prados
e anjos alados a tocar instrumentos.
E de repente piso no chão molhado.
Sinto as pedras furando meu sapato.
Volto os olhos para o mundo real.
Abro minha natureza secreta.
Mil corações batem em
ritmo descompassado.
Asas abertas, quero voar
como os pássaros no horizonte.
Mas sinto minha própria dor
de criatura mortal.