segunda-feira, 30 de março de 2009

Longe de ti

No silêncio da tarde
abraço tua lembrança fugidia.
E longe de ti
acordo da ilusão.
Outro mar de tormentas palpita
na solidão e no medo.
E longe de ti
o encantamento da tarde
é bruma que se dilui,
abrandando o vento.
As folhas vagueiam
à procura dos teus passos.
Escorrem seivas e salivas.
Infames lágrimas
brotam de olhos cegos.
E é no silêncio
que te encontro depois.
O corpo exausto das batalhas.
Mãos que nunca plantaram.
Mãos que sequer colheram.
E longe de ti
eu sei que tudo fica inútil,
mas choro de puro amor.

LANÇAMENTO ESTELAR


Queridos amigos e amigas,

"ESTELAR", meu primeiro livro no gênero poesia, vai ser lançado no dia 13 de maio. Breve colocarei o convite no blog, com local e hora.

A presença de vocês no lançamento será fundamental para o sucesso do evento.
Obrigada pelo estímulo que tenho recebido de todos vocês, através dos comentários, telefonemas e manifestações.
Beijo carinhoso,
Alice Monteiro


segunda-feira, 23 de março de 2009

Espirais de Prata

A Adalcyr de Morisson Monteiro,
meu pai amado,
in memoriam


Pensamentos silentes

povoam minhas memórias
e soltam o verbo preso.
E o carinho,

que nos devotamos,
é somente vento
em espirais de prata.
Me refugio nas sombras
das lembranças guardadas.
Me aconchego nos sonhos
de uma vida inteira.
Tua vida longa

aos meus olhos
foi tão breve.
Uma doce saudade
me invade o ser.
O silêncio da noite
é tão intenso
que me aquieto
à espera de ouvir
tua voz repousante.
Não quero te acordar.
Dorme, dorme,
meu paizinho.
Pássaros celestiais
vieram te buscar.
E serafins alados
já embalam teu sono.
Agora tens, enfim,
a paz da eternidade.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Jogo de Ilusão

Subverto os limites
entre realidade e ficção.
Retomo o diálogo
com o tempo.
Debruço-me na sacada
da nossa trajetória.
Flutuo junto
à ruptura e a inspiração.
Luto e me perco
em ousado desejo.
Abraço gostos e desgostos.
Observo a escuridão
por trás de tudo.
Vejo a imobilidade
e o vazio.
Preservo os espaços
que sobraram
e aguardo a possibilidade
do encontro amoroso.
Mas tudo parece
um desenho psicodélico,
libertário e discutível.
Às vezes sinto-me
em colapso total
e os ruídos externos,
confesso,
ferem meus ouvidos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Estelar


Caros Amigos,
É com muita alegria que comunico a todos vocês que meu livro de estreia em poesias "Estelar" já está pronto. Foi editado, com todo capricho, pela Ibis Libris.
A capa é a reprodução do quadro renascentista "Júpiter e Io" ,
de autoria do pintor italiano Antonio Allegri (1489-1534), conhecido como Correggio.
O lançamento será em maio próximo. Espero todos vocês lá.
Quando estiver definido o local e a data, aviso.
Até breve!
Beijos,
Alice Monteiro

O Desaparecido

Ela virou-se bruscamente à procura do anel de noivado. Tinha certeza de tê-lo colocado à mesinha de cabeceira na hora de dormir. Pronto, o que vou dizer ao Rubem? Vasculhou o quarto inteiro, debaixo da cama e nada. Era uma linda jóia de família, com um brilhante incrustado formando um delicado desenho geométrico. Rubem tinha proposto:
— Vamos morar juntos, Aimée?
— Está bem, vamos.
No dia seguinte, ela disse para Rubem:
— Tenho dúvidas, querido.
Mesmo assim, Rubem lhe presenteara com o anel, uma relíquia de sua bisavó materna, olhos esverdeados e espanhola de Andaluzia. Ele não a conhecera, mas, segundo familiares, era considerada uma santa, ajudava a todos sem distinção e tinha uma sabedoria advinda talvez dos livros sagrados que lia desde pequena. Havia aprendido o alfabeto, noções de ciências e filosofia, o que era considerado raro naquela época em que as mulheres somente cozinhavam, cuidavam da casa e gestavam muitos filhos. Montava a cavalo em total liberdade nos pátios e nas cercanias do sítio onde vivia.
Rubem gostava de pensar em sua bisavó. Uma mulher misericordiosa e moderna para os padrões espanhóis do século XIX. Pelos retratos amarelecidos que recebera de herança, Aimée lembrava fisicamente sua bisavó, María Pilar. Talvez o meio sorriso, o jeito de menina, o feitio da sobrancelha espessa, os cabelos ligeiramente ondulados, o olhar enigmático e inteligente.
- Nossa, será que estou tão apaixonado assim? Não estou fantasiando Aimée?
No quarto de dormir, Aimée continuava procurando o anel. Sabia que seria uma tarefa difícil se não o achasse. Rubem não a perdoaria! Ninguém havia entrado em seus aposentos. Ritinha, a empregada, era de total confiança da família. Não começara a limpeza da casa, nem servira o café da manhã. Todos dormiam, a casa estava silenciosa. Os primeiros raios de sol penetravam através das cortinas transparentes e esvoaçantes. Cansada de procurar, vestiu-se e desceu as escadas.
Encontrou Ritinha preparando o desjejum. Dirigindo-se a ela, cumprimentou-a, dizendo:
— Você, por acaso, viu o anel que Rubem me deu de presente?
— Não, Aimée, não arrumei os quartos. Só se você esqueceu aqui na cozinha, no lavabo ou na sala. Você já procurou em todos os lugares da casa?
— Ainda não. Vou primeiro comer. Seu café está cheiroso... Você assou bolo de aipim com coco? Ah, faz um suco de laranja pra mim?
— O bolo ainda está quente! Toma aqui seu suco, tem pão fresquinho, geléia de figo, queijo curado e presunto. Você quer ovos mexidos?
— Nossa, Ritinha, você quer me ver gorda?
— Você está muito magra, Aimée! Pode ganhar uns três quilinhos... Eu é que tenho que tomar cuidado. Outro dia o Floriano me disse que eu estava bunduda!!!
— Muita audácia dele, Ritinha. Ele com aquele barrigão. Só o que faltava...
Aimée comeu sem pressa, estranhou que seus pais ainda dormissem até àquela hora. Cláudio, seu irmão caçula, não tinha hora para nada mesmo.
— Rita, você viu meus pais hoje?
— Penso que eles acordaram muito cedo, o dia está lindíssimo, devem ter ido passear de bicicleta ou foram comprar verduras frescas para o almoço. Logo estarão de volta! Seu pai não dispensa meu café.
Enquanto saboreava o bolo de aipim ainda quente, Aimée ouviu um barulho estranho vindo da sala.
Em seguida, um homem apareceu surpreendendo as duas.
— O que você quer aqui? — disse Aimée tentando se mostrar segura.
— Eu não sou um homem.
— Não entendi sua resposta.
— Gostaria da sua saudação. Você não recebeu bons hábitos?
— Se é só isso que você quer, eu cumprimento você. Bom-dia! Gostaria que fosse embora.
— Estou com fome. Posso me sentar e comer com você?
Para ganhar tempo, Aimée fez sinal para Ritinha e esta trouxe uma caneca, pão, manteiga, leite e a garrafa térmica com café ainda tinindo de quente.
Em segundos, o senhor devorou o café da manhã. Parecia mesmo faminto e cansado. Talvez não tivesse dormido, estava sujo, mas não passava medo. Tinha olhos virtuosos, suas mãos magras tremiam.
Lá fora, o som de uma bicicleta derrapando. Os pais voltavam. Seria difícil entender o que se passava na copa-cozinha, aquele homem maltrapilho lanchando ao lado da filha.
Madalena entrou afobada acompanhada do marido, Araújo, as faces afogueadas pelo esforço das pedaladas.
Quando olhou o velho perto de Aimée, seus olhos encheram-se de lágrimas:
— Milagre, milagre! Tio Gregório voltou! Tio Gregório voltou! — gritou quase de um fôlego só. Escapou-lhe do peito um profundo suspiro.
O ancião fez seu único gesto: entregou o anel de noivado a Aimée. Estava todo sujo de terra e de lama.
Aimée, perplexa, não entendeu o regresso do seu tio-avô, desaparecido há três anos e como o anel de brilhante havia parado em suas mãos.
Mas esse mistério faz parte de uma outra história.

terça-feira, 10 de março de 2009

Fragmentos de Mim

No horizonte infindo,
arrasto-me à procura
de motivos para sorrir.
Mas é tempo perdido
e estou de mãos vazias.
E o que é um poeta de mãos vazias?
Atravesso ruas,
desbravo vielas,
numa velocidade urbana
que me supera.
Quase cega,
corro em ziguezague,
buscando o medo.
Quero te provar algo
fora dos limites.
Meu corpo sente calafrios,
mas desconheces.
Algo sufoca meu peito.
Busco a aventura
e a coragem.
Busco a ousadia
da conquista.
Mas no fundo mesmo,
quisera eu ser
tua obra-prima.
Quisera ser
a alma gentil,
sem infâmia,
sem enganos,
assim quase perfeita.
E, por favor,
não me julgues mal
se vejo perfídia em alguém.
E se em cada beijo teu
o universo insondável
mostra seus desejos.

Entranhas

O amor que te dou
está na literatura, nos astros
e nas estrelas.
Desnecessário mostrar
o coração acelerado.
Me despi de tudo
e tenho a carne exposta.
Rasguei o imponderável.
E só a arte agora me comove.
Toco as constelações,
componho canções.
E me abasteço de razões
pra não sofrer mais.
Aguço meus sentidos
para afastar-me da angústia.
E me desafio para livrar-me
de tudo que me cega.
Vou ao meu próprio encontro.
Escrevo com fascínio
e sofreguidão.
Tento te reinventar.
Mas já fazes parte da imaginação.
As palavras, sim, me pertencem.
Descobri que nada é meu.
Pensei que era, mas
tudo o mais é reticente
e cheio de caprichos.
E eu me preencho
e me supero
do amor que não me dás.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Abraços Siderais

Dentro do momento insano
e da curva desta esquina,
teus gemidos são ouvidos.
São lamentos do mundo,
enclausurados no peito.
Pensamentos embaçados
represam tardes de chuva.
O que te dizer
se a tempestade te engole?
Seguro as lágrimas,
traço rumos para os beijos
que trocamos.
Nada mais doce
do que o sonho tangível.
Sei como dói amar.
Crio redenções.
Invento possibilidades.
Reviro-me
e envelheço um pouco.
Destilo seivas,
entre lençóis amarrotados,
com o cheiro da tua pele.
Enfrentaria tudo
para não sentir a dor aguda
que abate teu corpo exposto.
Talvez fosse melhor gritar.
Talvez o silêncio da noite tardia
embale teu sono dolorido.
E voltes a ser menino grande,
a brincar debaixo da escada
de esconde-esconde.
Mas a canção silente,
pela vida afora,
leva teus passos
em direção ao íntimo da alma.
Quem sabe agora a noite
cale todo o sofrimento.
A força lírica
de abraços siderais
virá te trazer conforto.
E anjos e querubins
beijarão com ternura
tua face solitária.

terça-feira, 3 de março de 2009

Nas Asas da Poesia

Na poesia vou,
dou corda e linha ao imaginário.
Na poesia, viajo
nas asas dos meus sentidos.
Na poesia, busco
teu ser idealizado.
Tua presença distante
é tão palpável
como o ar que respiro.
E a vida nunca me pareceu tão bela
já que me sinto viva,
novamente.
Tua simples existência ocupa
o ar de sonhos e desejos
que o vento desconhece.
As estações do ano se enchem
de novos tons porque existes.
E é tão belo sentir
o que vem de dentro de mim
desta forma inesperada,
sutil e genuína.
Através da poesia,
toco teu corpo e tua alma.
E teu corpo
das ilusões que compus
nunca me pareceu
tão perfeito como agora
que tua presença
é apenas tecida dos meus sonhos.
Por não saberes de mim,
seduzo-te, docemente.
E volito serena nas asas da poesia.
Por desconheceres as minhas emoções,
filosofo sem pudores sobre o amor.
E também o amor
nunca me pareceu tão belo,
eternizado neste instante
de vida, magia
e encantamento.