terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Lugar Sonhado

No fundo, o meu desejo
é caminhar na praia longínqua.
Como se a vida
não tivesse sabor de finitude.
Sigo aquela onda fugidia.
Me quebro nas vagas
do mar indefinido.
Me faço em pedaços.
Nunca mais o tempo da
minha vida será o mesmo.
Mas na espuma do mar
reconheço um lugar sonhado.
Descubro belezas e mistérios
na precariedade da vida breve.
Atravesso a dor, o sal,
a areia e o vento.
Adorno com conchas,
caramujos e caracóis
os recônditos da minh'alma.
Remexo com delicadeza
as feridas dolorosas.
Meu rosto se renova
e me esqueço do gesto esquivo
das tuas mãos de pedra.
Agora canto para me fazer dormir.
Uma canção de paz.
Abandono as vestes usadas.
Coloco guirlandas de papel
nas janelas da casa.
Encho-me de coragem.
Saio do círculo fechado
à procura de uma travessia
que me faça ter a ilusão
de ser feliz.
Onde o silêncio dos astros e
das estrelas seja audível.
Onde o branco das paredes,
o ar límpido do quarto
me faça fechar os olhos
e jamais negar o que se passou.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Abismos

Desço ao abismo de mim
quando teu sexo
verte a vida
nas minhas entranhas.
Volto da viagem abissal
porque tuas mãos vigorosas
me arrancam do âmago da terra.
Misturo nossos fluidos
e neste momento difuso,
impreciso
e solitário, todas as criaturas estão em mim.
Sinto-me morrer um pouco,
seduzida e flagelada pelo
infinito prazer que me dás.
Mas este prazer agora
não é mais teu nem meu.
Não nos pertence.
É um prazer abundante
como a água dos mares.
E fecundo como a terra.
É um prazer que me embriaga
como se fosse uma bacante.
É um prazer embriagante
como a morte.
É como um deleite,
tão deslumbrante
como a própria vida.