quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

À Deriva

O que me derrota
é saber que o tempo
não está a favor dos ventos.
E nos deixa à deriva.
Desperdiçamos momentos
de ternura e enlevo.
Brigamos por coisas vãs.
E o tempo não perdoa.
Esta certeza arruína
meus sonhos.
Construimos pesadelos.
Um frio desconhecido
percorre
meu corpo.
Já sinto tua falta anunciada.
O futuro nos acena
com partidas,
velas aos mares
e despedidas.
Nada posso fazer.
O amor escorre pelos dedos.
Sinto saudade do carinho
que me supria.
Sinto falta do acalanto
nas noites insones.
Um pouco de fel trava
a conversa de hoje.
Quando tudo era mel,
tu não prestavas atenção.
E o teu descuido,
meu amor,
foi fatal.
Ou talvez inevitável.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sem Forças para Voar

Roubaste de mim
a bússola,
meus parâmetros.
Deixaste-me com
paradoxos.
Teus antepassados
largaram rastros pesados,
incrustados
na tua alma peregrina.
Há areia desértica
que velam teus olhos.
É o legado que recebeste.
É o teu triste e doloroso legado.
Teu sangue sírio
percorre tuas veias e nas
tuas vísceras quentes
vejo adagas e punhais.
Tu te revoltas contra as misérias
do mundo terreno.
Brigas com a humanidade.
Choras o tempo que flui.
Mas nada podes fazer.
E não te libertas
do passado de venturas.
Estás preso como
frágil crisálida
sem forças para romper
o casulo de filamentos,
tecido como o novelo
de Ariadne.
Não tens forças como Teseu.
Queres voar em busca do infinito.
Mas algo te puxa
para o fundo da terra adentro.
Confusa, assustada e enevoada,
imagino outra saída
que me devolva a mim.
Quero a luz das estrelas.
Quero me enternecer,
novamente,
com o cântico dos pássaros.
A vida me convida
a desfrutar suas alegrias.
Quero sonhar com o rio,
a água, a pedra e o vento.
Baco ergue sua taça
e me brinda com seus deleites.
O cosmos reclama
minha demorada ausência.
Mas tua herança atávica
enche de neblina
o meu sonho desperto.
Insone e dividida,
me alimento de cansaço.
E o universo se torna
imensamente cinza.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ser Feliz

Escolho ser feliz.
Se não me acompanhas,
nada posso fazer.
Quero o regozijo
da alegria.
E a vida mostra suas cores
num arco-íris de encantos,
deslumbramento e magias.
Já te disse que quero
ser feliz.
Não quero ter razão
nem partido.
Quero seguir
a estrada que me convém.
Quero viver
as circunstâncias,
desfazer as ilusões.
Chega de lamento.
Meu pranto não lavará
o sofrimento.
Quero te convidar
a sorrir.
Não sei se irás comigo.
Mas recuso-me a ser infeliz.