terça-feira, 21 de abril de 2009

Canto de Louvação

Quero te fazer um canto litúrgico,
sem incompletudes, nem ritos,
nem desejos.
Que te pareça agnóstico.
Canto de harmonia sublimada.
Canto de calmarias.
Canto repousado.
Canto de silêncio.
Canto de louvação.
Quero compor um canto nupcial.
Para chegarmos juntos,
quem sabe,
ao destino final.
Porém para ti sou tão-somente
uma estrela desgarrada
das galáxias.
Para ti meu corpo
tem a cadência do lamento.
Mas quero apenas tecer um véu
que jamais me tolde os olhos.
Para que eu sempre te veja
muito além do que me mostras.
Não quero ser tampouco exigente.
E antes que chegue, amor,
a madrugada,
eu claramente te pergunto.
Se nos queremos tão bem
por que tudo isso agora?

terça-feira, 14 de abril de 2009

Minha fortaleza está na solidão

O que restará de nós
quando o amor deixar de ser terno?
O que restará de nós
quando o amor for feito de angústias
e não de entendimentos?
O que restará de nós
se não soubermos
conduzir nossos loucos desejos?
O que restará de nós
se entrarmos no turbilhão
da audácia de viver?
A poesia que te dou hoje
é uma desordem total.
Enxergo o caos criando instantes.
É que sinto falta, confesso,
da emoção que tinhas no passado.
E falta algo, falta alguma coisa.
Não sei ao certo.
Vejo sombras e nebulosas
no teu semblante.
Revelações nas entrelinhas.
Me torno bela e pura para te seduzir
e não me satisfaço.
O resultado é imperfeito.
Busco a comunhão
mas desconheces a palavra.
Crio a paixão e me torno tímida.
Invento o mundo
em busca da verdade filosófica.
Invento a vida
em busca da transcendência.
Invento coisas e reconheço:
minha fortaleza está na solidão.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Janela Fechada

Foto: Márcia Monteiro


Na casa vazia,
imagens palpitam
por trás da janela trancada.
Rostos perdidos
não se revelam.
Vozes veladas
suspiram por amores distraídos.
Surdinas vozes
clamam silentes seus desejos.
Exílios e ausências
habitam entre emoções
em desalinho.
Desalentos e medos
se contorcem
como bocas famintas.
Espreito um olhar furtivo
no vazio tão denso de tudo.
Mas a casa continua vazia.
Não há mais canção possível.
E a janela está fechada.
Definitivamente fechada.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Contrapontos

Nas complexidades
e contrapontos
dialogamos as inquietudes
que nos devastam a alma.
Nos sufocamos com invenções.
Fazemos poucas concessões.
Nos cobramos atenções.
Depois caímos exaustos.
Quando a irrequieta noite chega
somos apenas dois mortais,
sonhando com a eternidade.
Navegamos nos desvarios.
Afagamos com delicadeza
a nossa loucura.
Porém, teu dorso me agasalha.
Meu ventre é teu êxtase
e teu repouso breve.
E é no silêncio do crepúsculo,
na parede multifacetada do quarto
que buscamos a comunhão.