quarta-feira, 3 de junho de 2009

Pandora






A ânfora que guardava o grão
se espatifou no chão da sala.
Não posso mais te alimentar
como fazia com ternura.
Choro o colar que me deste
e se desfez no tapete grego.
Pérolas rolam sem piedade.
Lágrimas navegam em mares
de águas sombrias e revoltas.
Dize-me coisas infames.
Prefiro que te cales.
Já que tua palavra perdeu
a lucidez e o recato.
Por mais que procure o amor
que outrora me pareceu real.
Só encontro o vazio, a agonia,
o deserto, o pranto.
Sei que a tristeza existe
no contorno da travessia
onde o sol se pôs
distraído dos sentimentos.
Chamo por Zeus meu pai.
Imploro aos deuses.
Me apoio na mitologia
para compreender o universo.
Por fim, cansada e dissolvida,
ignoro os males
à espera de outro momento
sem tanta dor.





Um comentário:

geraldoepoesia disse...

No embate cáustico entre Pandora e a poetisa, pode ser que vença a detentora das letras. Ela possui o cordel mágico capaz de enlaçar todas as pérolas derramadas por Pandora. Pérolas serão sempre jóias. Espalhadas ou no colar que imaginamos o melhor.
Geraldo Ferreira