sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Finitude

Concentro-me na tua voz escura

e meus lábios tremem.

Temo o que vais me dizer.

Falas sempre por metáforas.

Imagino teu cansaço de viver.

Imagino as passagens retidas

na memória distante do que viveste.

E te quedas absorto, cismarento

e ausente.

Não digo nada.

Temo este instante incerto,

tenso e recoberto de emoções.

Concordo com o que me dizes

em pensamento apenas.

Pegas meu rosto

e me beijas a testa

com medo que eu desperte

de um sono infeliz.

Percebo que também

estou muito cansada.

Pressinto a ruptura.

A perspectiva do adeus

trava minha garganta

de tantos adeuses já vividos.

A voz da noite me corta

feito navalha.

Sou frágil e forte.

Sou apenas uma mulher

esvaída do sonho.

Éramos talvez o amor

mais comovente.

Mas agora o universo,

a multidão embriagada,

os rios,

as flores e as florestas

nos separam.

E não há o que dizer.

Não há nuvens nos céus.

E no mar gelado e inatingível

vejo ao longe corvos a grasnar

na imensidão do horizonte.

Um comentário:

geraldoepoesia disse...

Os corvos vivem na ilha da árvore do coração. Lá no longe do mar.

Geraldo Ferreira