O silêncio é uma parede
revestida de palavras.
A aguardente que bebo
solta o verbo preso.
E o esplendor da
tua carne beduína
é lufada de vento
que penetra a janela sem tranca.
Lívida, já não temo a tempestade.
As paredes da casa
não são azuis,
mas sua cor apodrece e
faz-se barro.
Teu rosto murcho,
uma flor de inverno,
parece-me agora
sem brilho e coloração.
Refugias-te no
crepúsculo das sombras
que projetaste ao longo da vida.
Teu riso sem vigor
fala de velhice e dor.
É tua forma discreta de chorar.
Não há mais pôr-do-sol possível
para nós dois.
Tua mão de mil e uma vidas
pesa sobre tua nuca.
Somos macho e fêmea
sem esperança nem porvir.
As janelas ainda giram
numa escala musical,
talvez tua última composição
nesta vida breve.
Mas o ar está rarefeito.
O silêncio agora é tão intenso
que não ouso gritar
para não acordar
os corredores da memória.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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Um comentário:
Meio triste, mas gostei. Beijos dinda!
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